quinta-feira, 23 de julho de 2015

Projeto de Pesquisa - DEMOCRACIA ELETRÔNICA PARA QUEM? QUEM SÃO, O QUE QUEREM E COMO OS CIDADÃOS AVALIAM OS DADOS GOVERNAMENTAIS ABERTOS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS


CÂMARA DOS DEPUTADOS
Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento
Programa de Pós-Graduação









GUSTAVO WARZOCHA FERNANDES CRUVINEL











DEMOCRACIA ELETRÔNICA PARA QUEM?
Quem são, o que querem e como os cidadãos avaliam os dados governamentais abertos da Câmara dos Deputados




Orientador: Dr. Cristiano Ferri Soares de Faria.













BRASÍLIA
2015



Apresentação

Este trabalho pretende fazer uma discussão sobre o perfil dos usuários que acessam os dados governamentais abertos (DGA) da seção de Dados Abertos da Câmara dos Deputados e quais os potenciais desse uso nos conceitos de transparência pública, participação e controle social.
O conceito de transparência pública ganhou a atenção e tem sido amplamente discutido e implementado por governos no mundo inteiro. Estudiosos do assunto, entre eles Freire (2014) e Angélico (2012), entendem que a transparência não é um fim em si, mas um meio para se alcançar outros objetivos democráticos como accountability e controle social.
Segundo Freire (2014), existe uma tendência mundial em tratar a transparência pública como um elemento essencial para o fortalecimento da democracia. Com isso, governos têm investido cada vez mais recursos em tecnologia da informação e comunicação com diversos fins, entre eles, podemos citar o fomento a transparência pública, a participação política e controle social.
Associado a transparência existe o conceito de dados governamentais abertos (DGA). Espera-se que a aplicação desse conceito possa potencializar a transparência pública uma vez que possibilita aos próprios cidadãos desenvolver ferramentas inteligentes para um controle social mais efetivo sobre os gastos e atuação parlamentar. Conforme explicado em Vaz (2010), em 2007 um grupo de especialistas desenvolveu 8 princípios que devem ser seguidos pelos DGA. Estes princípios estabelecem que os DGA devem ser (OPENDATAGOV, 2007, tradução nossa):

1-        Completos: todos os dados devem estar disponíveis;
2-        Primários: dados devem ser coletados da fonte, com um mínimo de modificações;
3-        Atuais: dados devem ser disponibilizados tão rápido quanto o necessário para preservar o seu valor;
4-        Acessíveis: dados devem ser disponibilizados para a maior quantidade possível de usuários e a maior quantidade de propósitos;
5-        Processáveis por máquinas: dados devem ser razoavelmente estruturados para permitir processamento automático;
6-        Não discriminatórios: dados devem estar disponíveis para todos sem necessidade de registro;
7-        Não proprietários: dados devem estar disponíveis em um formato em que nenhuma entidade tenha controle exclusivo;
8-        Livre de licenças: dados não podem estar sujeitos a nenhum tipo de direito autoral, patentes, propriedade intelectual ou segredo industrial. Restrições razoáveis relacionadas a privacidade, segurança e privilégios de acesso são permitidas.

Nesse contexto, este trabalho tem como objeto de estudo a seção de Dados Abertos do Portal da Câmara dos Deputados. Mas qual o objetivo desses dados? Segundo informações disponibilizadas no próprio portal:

O projeto Dados Abertos tem como objetivo disponibilizar dados brutos em formato aberto para utilização em aplicações digitais. Isto significa que cidadãos e entidades da sociedade civil poderão acessar os dados públicos da Câmara e, com eles, desenvolver ferramentas inteligentes que permitam desde a percepção mais efetiva da atuação parlamentar e os gastos detalhados da Casa, até o resultado das votações do dia, de forma simples e automática pela Internet. (CÂMARA, 2015).

Entretanto, apesar de existir a seção de dados abertos, ela está cumprindo os objetivos para os quais foi criada? Ela está potencializando de alguma maneira os conceitos de transparência pública? Os usuários conseguem encontrar os dados com facilidade, entendê-los e fazer uso apropriados deles? As ideias presentes nessas perguntas originaram a questão de pesquisa desse trabalho: a seção de Dados Abertos do Portal da Câmara dos Deputados contribui em que medida para o aumento da transparência pública?

1 Objeto

O objeto de estudo será a Seção de Dados Abertos do Portal Transparência da Câmara dos Deputados.

1.1 Tema

Dados governamentais abertos.



1.2 Delimitação do tema

Como os dados governamentais abertos da Câmara dos Deputados têm sido utilizados para potencializar a transparência pública.

2 Objetivos

2.1 Objetivo geral

Avaliar a transparência pública da Câmara dos Deputados a partir da interpretação da demanda por dados governamentais abertos.

2.2 Objetivos específicos

·      Discutir o conceito de DGA;
·      Analisar o conteúdo dos DGA disponibilizados pela Câmara;
·      Identificar quem usa DGA da Câmara dos Deputados;
·      Descobrir para que os DGA da Câmara são usados;
·      Identificar os impactos dos DGA sobre os conceitos e práticas de transparência, controle social e participação cidadã.

3 Justificativa

Conforme relatado por Freire (2014), existem poucos estudos no campo da Ciência Política que analisam o perfil de usuários e qual avaliação estes fazem de portais governamentais de grande acesso. No referido trabalho o autor vai além da análise dos portais e do uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) verificando também as relações entre transparência púbica, participação e controle social¹.
No âmbito do legislativo federal, um dos trabalhos mais recentes foi o realizado por STABILE (2012) que faz uma análise geral do conteúdo e das formas de interação ofertadas pelo portal da Câmara dos Deputados. Além disso, o trabalho também analisa o perfil dos usuários e qual avaliação estes fazem da ferramenta. Entre os principais achados o autor ressalta a falta de interatividade e a necessidade de uma mudança para um paradigma colaborativo. Esse paradigma deveria incluir o cidadão no processo de constituição do portal. Dessa maneira, cada cidadão poderia “criar” e organizar seu próprio portal de acordo com suas preferências².
No trabalho de BRAGA (2007), o autor realiza uma ampla definição de indicadores para avaliar os portais brasileiros e da América do Sul em relação a transparência. Para isso o autor estabelece sete dimensões que devem ser analisadas: disponibilização de informações básicas ao público mais amplo, estrutura do processo decisório, recrutamento dos agentes encarregados de participar do processo decisório, processo decisório, modalidades de interação vertical, informações básicas sobre a estrutura administrativa da casa e interação ou comunicação horizontal. Cada dimensão possui um conjunto de variáveis que indicam o grau de conformidade dos portais em relação a ela.
Nesse trabalho, pretendemos verificar qual o grau de utilização dos DGA por parte do governo, do setor empresarial, da sociedade civil e da comunidade acadêmica para o estabelecimento de uma governança multiparticipativa, transparente, colaborativa e democrática (BRASIL, 2014). Esperamos que seus achados possam contribuir para a reestruturação e aprimoramento do fornecimento de dados governamentais abertos pela Câmara dos Deputados e a melhoria do controle social sobre a instituição e seus integrantes.

4 Metodologia

A metodologia será uma adaptação da utilizada em Freire (2014) com objeto e objetivos diferentes. Ela será composta por pesquisa bibliográfica sobre os conceitos de DGA, transparência pública, controle social e participação cidadã. Nessa pesquisa também será realizado um levantamento das boas práticas que devem ser utilizadas na disponibilização de DGA.
Após a pesquisa utilizaremos cinco procedimentos metodológicos complementares entre si:
·      Estudo do conteúdo disponibilizado na seção de Dados Abertos do Portal da Câmara dos Deputados;
·      Avaliação da abrangência dos dados disponibilizados;
·     Estudo das estatísticas de acesso a essa seção;
_____________________________
¹ Os resultados desse trabalho foram utilizados na reestruturação do Portal Transparência do Governo Federal.
² Muitas dessas ideias foram incorporadas ao portal Participa.br (PARTICIPA, 2015) desenvolvido pelo governo federal.
Estudo das estatísticas de acesso a essa seção;
·      Pesquisa online com os usuários da seção;
·      Análise quantitativa dos resultados.

            A relação entre os procedimentos metodológicos está descrita na figura 1 e será detalhada nas próximas seções.



Figura 1 – Relação entre os procedimentos metodológicos
Fonte: Adaptado de (Schuman & Kalton, 1985, p.641), citado por GUNTHER (2003).

4.1 Estudo do conteúdo disponibilizado na seção de Dados Abertos do Portal da Câmara dos Deputados

Nessa seção iremos analisar o conteúdo ofertado pela Câmara em formato de dados abertos. Será verificado se a forma de disponibilização segue os oito princípios de dados abertos estabelecidos pelo OPENDATAGOV (2007) e outras práticas que forem encontradas durante a pesquisa bibliográfica. Além disso, analisaremos o conteúdo para verificar quais temas estão disponibilizados. Em análise preliminar identificamos os seguintes temas: dados pessoais de deputados, atuação parlamentar, gastos com cota parlamentar e informações sobre proposições legislativas. Os resultados dessa análise serão utilizados na formulação do questionário de pesquisa online.

4.2 AVALIAÇÃO DA ABRANGÊNCIA DOS DADOS DISPONIBILIZADOS

Nessa etapa faremos um levantamento panorâmico sobre os temas que poderiam ser disponibilizados, mas ainda não foram. Para essa tarefa faremos a análise dos registros de solicitação de informações vinculados a Lei de Acesso a Informação (LAI, 2014) aos serviços da esfera institucional-burocrática, como o serviço telefônico gratuito (0800) e o e-mail institucional (Fale Conosco) (BARROS et al, 2012).  Além disso, utilizaremos entrevistas “em profundidade” semiestruturadas (OLIVEIRA, 2012) com gestores do Centro de Documentação e Informação (CEDI) da Câmara dos Deputados. As entrevistas terão finalidade de explorar os pontos de vista e experiências dos gestores no trato com as informações da Câmara e na disponibilização de DGA para a sociedade. O resultado dessa fase será utilizado na formulação do questionário com objetivo de verificar qual o grau de interesse dos usuários de dados abertos nos temas identificados.

4.3 Estudo das estatísticas de acesso a seção de dados abertos

Nesse procedimento utilizaremos a ferramenta Google Analytics para saber quantas pessoas acessam, de onde vêm e o que visualizam na seção de dados abertos. O objetivo é identificar os temas mais acessados e ter referências para identificar possíveis tipos de usuários dependendo da origem do acesso. Essas informações serão utilizadas em conjunto com a análise anterior para formulação do questionário de pesquisa online.

4.4 Pesquisa online com os usuários

Esta etapa consistirá da elaboração e posterior aplicação de um questionário com os usuários de dados abertos da Câmara.
O questionário será formulado com base no conhecimento adquirido nos estudos das seções anteriores.
Para realizar a pesquisa utilizaremos o mesmo software utilizado por FREIRE (2014). O LimeSurvey é um software específico para pesquisa, foi desenvolvido em PHP e utiliza banco de dados MySql. Entre outras funcionalidades a ferramenta permite a realização de websurveys com número ilimitado de questões e participantes, questões condicionadas a respostas anteriores e envio de convites por e-mail (LIMESURVEY, 2015).

4.5 ANÁLISE QUANTITATIVA DOS RESULTADOS

            A metodologia para análise quantitativa será desenvolvida ao longo de todo o projeto e dependerá das variáveis que forem sendo consideradas importantes para responder o problema de pesquisa colocado. Essas variáveis estarão presentes no questionário.
            Como plano preliminar, realizaremos uma análise estatística básica. Pretendemos segmentar os usuários de DGA nos seguintes tipos: governo, setor empresarial, sociedade civil e comunidade acadêmica. Iremos verificar quais os temas de maior interesse para cada um desses tipos. Tentaremos também mostrar com quais finalidades os DGA são utilizados, inicialmente propondo as seguintes variáveis: trabalho, comercial, cidadania e pesquisa.
            Por fim, através das variáveis qualitativas estabelecidas durante a pesquisa, verificaremos qual a avaliação dos usuários em relação a seção de dados abertos da Câmara dos Deputados.

5 Cronograma

O cronograma deverá seguir as etapas e prazos listados na Figura 2.


Figura 2 – Cronograma do projeto de pesquisa.
Fonte: Projeto de pesquisa.

Referências

ANGÉLICO, Fabiano. Lei de Acesso à Informação Pública e seus possíveis desdobramentos à accountability democrática no Brasil. 2012. 133f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2012.

BARROS A, BERNARDES C, RODRIGUES M. Comunicação pública, participação social e representação política: a experiência recente da Câmara dos Deputados. 2012. In: IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil, Rio de Janeiro, 2012.

BRAGA, Sérgio. O papel das TICS na institucionalização das democracias. Um estudo sobre a institucionalização dos órgãos legislativos na América do Sul com destaque para o Brasil. 2007. 101f. Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados, Brasília, 2007.

BRASIL. Marco Civil da Internet. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 09/06/2015.

CÂMARA. Dados Abertos. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/transparencia/dados-abertos/perguntas-e-respostas. Acesso em: 26 mai. 2015.

FREIRE, Felipe Ribeiro. Desafios para a Transparência Pública. Um estudo com os usuários do Portal da Transparência do Governo Federal. 2014. 284f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciência Política, Universidade de Brasília, Brasília, 2014.

GUNTHER, Hartmut. Como elaborar um questionário. Série: Planejamento de Pesquisa nas Ciências Sociais, 2003, Nº 1. Laboratório de Psicologia Ambiental. Instituto de Psicologia. Universidade de Brasília.

LAI. Lei de Acesso à Informação. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm. Acesso em: 09/06/2015.
LIMESURVEY. Funcionalidades da ferramenta. Disponível em: https://www.limesurvey.org/en/?jumpto=features. Acesso em 10/06/2015.

OLIVEIRA, Verônica Macário de et al. Entrevistas “em profundidade” na pesquisa qualitativa em administração: Pistas teóricas e metodológicas. 2012. In: Anais SIMPOI.

OPENDATAGOV. The 8 principles of Open Government Data. Disponível em: http://opengovdata.org/. Acesso em: 26 mai. 2015.

SILVA, Daniela Bezerra da. Transparência da esfera pública interconectada. 2010. 114f. Dissertação (Mestrado) – Coordenadoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, 2010.

STABILE, Max. Democracia Eletrônica para quem? Quem são, o que querem e como os cidadãos avaliam o Portal da Câmara dos Deputados. 2012. 184f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciência Política, Universidade de Brasília, Brasília, 2012.

VAZ, José Carlos et al. Dados governamentais abertos e seus impactos sobre os conceitos e práticas de transparência no Brasil. Cadernos PPG-AU/UFBA, v. 9, edição especial (2010) – Democracia e Interfaces Digitais para a Participação Pública, p. 45-62, 2010.

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